domingo, 25 de janeiro de 2015

Operações Remotas

As novas regras do DXCC permitem que se possa operar uma estação remota, desde que dentro do mesmo país, e ainda assim validar os QSOs para os diplomas da ARRL. Esta alteração promoveu grande altercação entre os participantes dos diplomas DXCC. Alguns mais radicais se propuseram a queimar seus QSLs, diplomas, equipamentos, antenas, rasgar os pulsos e sangrar até a morte. Outros, mais comedidos, preferiram continuar trabalhando seus DX mas nunca mais submetê-los à aceitação da Liga. Uma grande parte ainda não se manifestou, seja por não terem sido avisados das mudanças ou porque não acharam que fossem significativas o bastante para merecer seus tempos.
A verdade é que a ARRL nada mais fez do que se adaptar às novas tecnologias que permitem operações remotas a baixo custo. Nada mais do que isso, uma questão meramente econômica. Há muitos anos, não me lembro exatamente se dez ou quinze anos, a revista QST publicou um interessantíssimo artigo que previa o fim das expedições tripuladas. Um grupo de DXers se reuniria, montaria um equipamento que seria lançado por avião em algum lugar remoto, exótico, algo como Bouvet, Peter First ou outro lugar qualquer que fosse interessante do ponto de vista de raridade para o DXCC. Esse equipamento, totalmente operável por controles remotos, cairia de para-quedas num ponto previamente escolhido, claro, com bons paths para as costas leste e oeste dos USA, abriria seu invólucro, abriria os coletores de energia eólica e solar, carregaria suas baterias, esticaria uma vertical até a frequência desejada e faria os contatos, decodificando automaticamente RTTY, CW e até mesmo os fonéticos internacionais; o log seria enviado por satélite para os operadores da estação remota que os validaria e enviaria os cartões QSL. Toda a tecnologia para isso, lembrava o artigo, estava dominada e ao alcance de todos, era apenas uma questão de custo. Seria esse o fim das expedições? Ou seria um novo começo?
Um ponto interessante do DX, seja ele para alcançar o WAZ, DXCC, ou qualquer outro papelucho, é que o participante estabelece suas armas e seus objetivos e, dentro dessas premissas, ele participa. As regras de um ou outro diploma nada mais são do obstáculos legais ou morais para que haja algum espírito de competição e emprestar algum interesse ao papelucho.
Pergunto para os interessados qual a diferença entre ouvir um DX pelo telefone de um amigo ou por um SDR? Qual a diferença entre operar uma estação remota ou a estação de algum amigo? As regras dizem que as estações devem respeitar os limites legais de potência de cada país. Por acaso alguém já mediu a potência irradiada das big-guns? Conheço várias que operam muito acima do limite legal. Você também as conhece? Essa limitação não é atendida e os donos das estações se orgulham de suas potências e, mais, sou capaz de apostar que a esmagadora maioria das pessoas gostaria e muito de poder transmitir com 5 ou 10 kW. As regras dizem que os DXs devem ser feitos pelo mesmo operador, mas, e se alguém vem operar sua estação e faz um país novo em alguma banda com seu indicativo, você vai ignorá-lo ou vai contabilizá-lo? Talvez você diga que é válido porque foi feito da sua estação e trará de volta a velha discussão que o indicativo deve pertencer ao operador e não a estação. Discussão tão longa quanto velha. É claro que alguns limites devem ser observados e alguns comportamentos são absolutamente condenáveis, como o de dois operadores que aparecem com QSOs em 160 metros com o sol a pino e os põem nos seus logs; não só isso mas ainda exibem orgulhosamente os QSLs. Idiotas? Penso que não, apenas tiveram seus sensos de exibicionismo acima dos sensos éticos, uma questão meramente aritmética.
Quando comecei a caçar países há mais de quarenta anos eu nem suspeitava da existência do DXCC, fiquei sabendo disso uns três anos depois quando um amigo me perguntou se eu já tinha 100 países confirmados, contei os cartões e respondi que tinha 134 e ele então me disse para mandá-los para o endereço da ARRL que eu ganharia um diploma. Mandei e vários meses depois recebi um canudo com o diploma dentro, enfiei o papelucho numa pasta de onde nunca mais saiu. Nunca dei importância ao papel em si, mas, muito, ao objetivo que eu estabeleci: falar com todos os países do mundo. Terminei a empreitada há 10 anos e não tenho mais objetivo definido, continuo a fazer DX porque gosto e continuarei fazendo enquanto o gosto durar; os resultados são e continuarão sendo mera consequência da minha permanência no ar. O que penso de operação remota? Nada. A discussão é inócua.
73 DX de PY2YP - Cesar