quinta-feira, 17 de maio de 2012

A última zona

Os comunicados com a Austrália são extremamente difíceis porque os sinais passam pelo polo sul e a absorção magnética no pólo impede a passagem dos sinais. Nas bandas baixas isto é muito mais difícil, algo realmente complicado. Passar pelo outro lado, isto é, pelo caminho longo, é terrível devido a enorme distância, mais de 27.000 kilometros, contra os 12.500 km pelo polo sul, o assim chamado caminho curto.
Uma revista americana, CQ Magazine, dividiu o mundo em 40 zonas e oferece um belíssimo diploma para quem conseguir falar com todas essas zonas. Esse diploma, é bem difícil nas faixas altas, em 80 metros, é mortal.
Uma ocasião eu recebi um e-mail de um australiano, Paul, VK7BBW, aonde ele me pedia para tentar um comunicado com ele em 80 metros. O Brasil, dizia ele, é o último país que eu preciso para completar o diploma WAZ, Worked All Zones. Faz 11 anos que estou tentando, sem sucesso, me comunicar com o Brasil em 80 metros. Um americano me deu seu nome e disse que talvez você pudesse me ajudar. Montei uma antena enorme, completou ele, para este comunicado e peço a você que faça uma tentativa.
Respondi a ele imediatamente dizendo que poderíamos marcar quatro tentativas: a primeira no pôr do sol da 6a feira, a segunda no amanhecer de sábado, a terceira no cair da tarde de sábado e, finalmente, a última no amanhecer de domingo. O fim de semana dos comunicados seria dali a 15 dias, pois minha estação fica em Indaiatuba, aonde vou somente nos finais de semana.
Nesse meio tempo trocamos vários e-mails e acertamos hora, frequência e aproveitamos para trocar idéias sobre antenas e também nos conhecermos. Finalmente, chega o final de semana em que pude ir para a minha estação. Na 6a feira, não tivemos sorte, os europeus estavam muito fortes e não conseguíamos nos ouvir. No sábado pela manhã, via pólo sul, conforme esperado, igualmente não tivemos sorte. Para a tentativa de sábado à tarde, coloquei o despertador da estação para me avisar o horário e fui cuidar de outras coisas. Quando o despertador tocou, na hora e minuto exatos fui para a frequência combinada e comecei a chamá-lo. Os europeus fizeram, silêncio e ficaram a nos escutar, a notícia havia corrido e o pessoal da tribo de 80 metros sabe das reais dificuldades de um comunicado dessa natureza. A distância de mais de 27.000 kilometros em 80 metros é realmente de matar. Após várias chamadas, o sol já se pondo, finalmente ouvi uma vózinha no meio do ruído do rádio. É ele, pensei comigo, mais uns minutinhos e o pôr do sol vai dar o empurrão que necessitamos. Realmente, 4 minutos depois a voz dele veio firme no alto falante: "Papah Yankee two Yankee Papah you are four by four, forty-four, do you copy?". Respondi imediatamente: "Victor Kilo seven Bravo Bravo Whiskey, you are also forty four, four by four" Ouvi de volta, bem claro: "Thank you very much Cesar, seventy three." Outro australiano me chamou mas a propagação já havia ido embora. Ouvi apenas os europeus nos cumprimentando.
Alguns dias depois recebi uma longa carta do Paul, com o cartão junto, aonde ele me contou sobre o que se passou lá na Austrália, na Tasmânia precisamente. No domingo a tarde seus amigos foram à sua casa para comemorar. Eles colocavam a gravação do comunicado no alto falante e bebiam vinho. O Paul, mora ao lado de um vinhedo, ficaram todos de porre. Demorou 11 anos, para conseguir o famigerado diploma, mas valeu a pena.
73 DX de PY2YP - Cesar

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O retorno

Após quase uma década de silêncio decidi voltar a escrever as diatribes sobre as questiúnculas que ocorrem no rádio. O espaço físico dos editoriais do CWSP era de cerca de 640 palavras, com esta mísera quantidade de palavras eu tinha que lavrar um texto inserido nas questões radioamadorísticas de então, apresentar o tema, escrever o desenvolvimento, a coda e o fechamento. Exercício difícil uma vez que não era possível diminuir o espaçamento das linhas ou o tamanho das letras; difícil sim mas muito prazeroso e muito bom para treinamento de síntese, concatenação e outras obrigatoriedades presentes nas lavraturas de textos. Eu que sempre vivi da minha escrita, escrevendo textos técnicos e áridos por conta da profissão de engenheiro, tive nos anos de CWSP uma tribuna para escrever sobre o que mais gosto: DX.
Agora, liberto dos grilhões físicos desses editoriais contarei casos ou exporei minhas opiniões que, tenho certeza, desagradarão a alguns mas que certamente expressará o sentimento de indignação da maioria. Ninguém será obrigado a ler os textos, nem tampouco será obrigado a se influenciar por eles, basta um único mísero clique de mouse para ignorá-los. Ou, se quiserem contrapor as idéias expressas há um local reservado para isso na seção de comentários. Os personagens do sítio de Maracutaia da Serra poderão ser ressuscitados caso sejam convocados, mas pretendo deixa-los a dormitar.
O blog ainda precisa de alguma organização nos posts, assim que eu conseguir entender a lógica de inter-relacionamento entre as tabelas MySQL e dos scripts em PHP eu ajustarei os boletins do CWSP na mesma ordem em que foram publicados, mas, se alguém quiser tê-los em PDF basta baixá-los do site na seção de download. Inicialmente há apenas duas seções, a dos boletins que não receberá textos novos e a dos QSOs que receberá as novidades.
Espero ter tempo suficiente para manter alguma frequência nas publicações mas como não sou obrigado a coisa alguma poderei calar-me indefinidamente, navegarei apenas conduzido pelos ventos da conjugação saco x tempo.
Bons DX e melhores confirmações.
73 DX de PY2YP - Cesar