domingo, 15 de abril de 2012

O fim de uma era

Apenas duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana mas eu não estou seguro quanto à primeira. (Albert Einstein)
Cedo ou tarde aprendemos que mesmo a mais longa estrada tem um fim, que mesmo o mais glorioso dos dias tem um poente, a mais bela sinfonia tem sua nota final e mesmo o mais entusiasmado pode cansar-se.
Uma rápida análise do Boletim Informativo nos mostra que as suas seções foram aos poucos perdendo sua importância, as colunas de manager, informações de DX e de concursos perderam seu sentido substituídas que foram pela proliferação das informações mais ágeis e mais eficientes disponíveis por diversas páginas da internet. As colunas da secretaria e coluna técnica podem perfeitamente atender às suas finalidades através da página gráfica do CWSP.
Em verdade, o Boletim Informativo foi criado para ser o veículo de divulgação formal das atividades do Grupo. Mudaram os tempos e mudaram os meios, a página gráfica fará as vezes de boletim informativo mantendo os associados devidamente informados sobre as atividades de forma mais rápida e eficiente, mais eficaz enfim.
Certamente alguém se lembrará de tecer críticas a esta medida, críticos nunca faltaram, colaboradores sim. Dirão eles que a tradição deve ser mantida, que é lamentável, que a atitude tomada é irresponsável e outros tantos reparos. Porém, em meio aos críticos, ninguém moverá um único dedo para tomar as rédeas do Grupo ou assumir as funções de redator, ou mesmo mandar uma única colaboração, por pequena que seja.
É chegada a hora de aceitarmos as mudanças e moldarmo-nos a elas. Não deixa de ser triste perder uma publicação voltada exclusivamente a uma modalidade radioamadorística, triste mas imposta pela crueldade da modernidade.
Ninguém mais do que este seu editor lamentará a extinção do Boletim Informativo nos moldes atuais. Afinal, foram 55 meses de convívio onde foram escritos 33 editoriais e 55 boletins. Foi uma tarefa executada com grande prazer e nenhum cansaço. Apenas alegria, do começo ao fim, aliada ao aprimoramento da capacidade de escrever um texto em um espaço pré-determinado, sem mais nem menos palavras, apenas a conta certa. Para quem, como eu, vive da sua escrita foi um fenomenal aprendizado e só por isto já teria valido a pena.
O nosso mais assíduo colaborador, PY2NFE, Ronaldo continuará escrevendo sua Coluna Técnica que será publicada na nossa página gráfica. O organizado e corretíssimo tesoureiro, PY2MT, Toni, igualmente terá a movimentação da Secretaria publicada no mesmo veículo. As informações sobre a atividade radioamadorística propriamente, dita, isto é, concursos, managers e dicas de DX perdem definitivamente seu lugar para as fontes mais eficazes disponíveis na internet. A página gráfica poderá ainda abrigar uma coluna voltada à exteriorização do pensamento dos associados, mais ou menos nos moldes dos editoriais, não mais ficando restrito ao pequeno espaço destes, mais livre e mais fácil de escrever portanto. Aos demais colaboradores o meu profundo agradecimento, foi uma honra e um grande prazer ter convivido com vocês.
Aos associados do CWSP o meu muito obrigado pela atenção e tolerância com os erros cometidos. Aos leitores não associados que nos honraram com suas indefectíveis presenças igualmente os agradecimentos de todos nós do Grupo. O número de boletins retirados mensalmente da nossa página gráfica nos mostrou o acerto da medida em tornar o nosso boletim disponível a todos.
Last but not least, os personagens do sítio de Maracutaia da Serra voltam para lugar de onde vieram e nunca mais assombrarão os infaustos DXers, a turma da cooperativa e tantos outros que nos forneceram farto material para os editoriais, a eles o meu mais profundo muito obrigado. Sem eles a vida teria perdido muito do seu colorido...
Arrectis Auribus
de PY2YP - Cesar

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Proxy QSOs

Ludwig van Beethoven, proprietário de um cérebro. (o próprio)
Durante as festas do início do século XIX era de bom tom colocar um lacaio à entrada para que este anunciasse em alto e bom som o nome e as propriedades do conviva recém chegado. Para que o lacaio pudesse ter a preciosa informação o convidado mandava antecipadamente seu cartão informando o nome completo e a relação das propriedades que gostaria de verem anunciadas à sua triunfal chegada. O grande compositor, convidado para uma dessas festas, por não ter propriedades, listou seu único e precioso bem: seu cérebro. Assim, à sua chegada o lacaio bradou: “Ludwig van Beethoven, proprietário de um cérebro.” Conta a lenda que os presentes ficaram mortalmente envergonhados e o costume de expor publicamente a riqueza ilícita encerrou-se nesse dia.
A vergonha e a conseqüente extinção do costume deu-se não em razão da posse, mas da forma como o bem foi havido. Não é vergonhoso ter dinheiro, propriedades ou honrarias desde que a obtenção destes bens tenha sido de forma ilibada e honrada. A vergonha se dá quando as posses são resultado de desmandos ou de atos ilegais. Da mesma forma as honrarias quando conquistadas de forma pouco esportiva, de forma desleal ou espúria devem ser motivo de vergonha.
“Não posso esconde-las pois condenar-me-ia”. Raciocinam os detentores de conquistas ilegítimas: “Se eu ostentá-las hão de imaginar que são verdadeiras, pois ninguém teria, em sã consciência, a coragem de torná-las pública”, imaginam com escárnio em seu desavergonhado corolário.
Mudaram os tempos mas não mudaram os costumes, a humanidade é a mesma, com suas mazelas e ilusões, talvez um pouco mais cínica, ou quiçá mais tola. De qualquer forma nota-se que os padrões de decência estão desaparecendo em todas as atividades humanas e, como não poderia deixar de ser, está a acontecer em nosso hobby.
A edição de agosto de 2001 da revista QST publicou um interessante artigo de autoria de Roger Western, G3SXW, sobre a nova forma de QSOs denominada proxy QSO, ou comunicados por procuração, que vem sendo adotada em alguns países. Quando um DXer consegue quebrar o pile-up, imediatamente após o seu QSO muda de indicativo trabalhando a estação para seus amigos, parentes e correligionários com a maior desfaçatez.
Roger Western comenta, com muita propriedade, que o DX tem um certo aspecto de competição, sobretudo o diploma DXCC. Acrescenta ele: “Existem ainda as diferenças culturais, alguns somente têm prazer com o seu próprio sucesso se ele for o resultado da sua própria conquista, ao passo que outros parecem ter um profundo desejo de aceitar as falsas glórias.”. Perfeito e lamentável.
O respeitado autor, não cita nomes e indicativos, mas diz textualmente: “é comum ouvir, digamos, um operador PY2 ou UA9 chamando com vários indicativos diferentes.” Conta ele, que quando da operação a VK9C, “um certo operador trabalhou os indicativos da expedição: VK9CXF, VK9CXW e VK9CXJ em várias bandas e chamando em seguida com os indicativos de seus amigos ouvindo como resposta, em alguns casos, QSO B4, pois ele não sabia que seus amigos já estavam no log”. Interessante, muito interessante...
Na sua desenfreada ânsia de trabalhar o país para seus amigos e parentes, eles esquecem que para os bons ouvidos os sinais telegráficos podem ser facilmente identificados pelo timbre, pela cadência e por outras característicos próprias de cada transmissor. Esquecem ainda que há muita gente no pile-up e que esse procedimento é motivo de zombaria e deboche entre os operadores de expedições quando estes se encontram em foruns como Dayton, Visália e tantos outros. Uma vergonha.
Não haverá outro Beethoven e não há mais festas precedidas de anúncios de posses, mas seria muito interessante que não fossemos todos confundidos com a turma da cooperativa.
Arrectis Auribus
de PY2YP - Cesar

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A antena ideal

Valorize suas limitações e não se livrará delas. (ditado alemão)
Era uma daquelas tardes quentes do verão, daquelas em que os pássaros, com medo de queimar os pés, recusavam-se a sentar nos elementos das enormes monobandas que ficavam no alto do morro no sítio de Maracutaia da Serra. Elas fiicavam ali, solitárias e silentes contemplando o enorme vale, com seus ares de superioridade.
Papah Yankee nessa hora do dia, próximo ao cair da tarde, quando as bandas estão abertas, tinha por hábito dedicar-se à leitura. Deitado ali na rede ele podia ficar olhando as antenas e ficar imaginando que sinais estariam chegando. Nada que preste, resmungava ele, bandas altas são para principiantes, essa espécie de gente que fica contente quando trabalha alguma coisa do Oriente Médio ou alguma ilhota do Pacífico. Levantou os olhos e viu que Jota QRP estava chegando para o costumeiro bate-papo em companhia de um velho conhecido freqüentador das bandas baixas.
Eles chegaram, cumprimentaram o veterano DXer e sentaram-se. Papah Yankee estava bem humorado e convidou-os para corujarem juntos a sacrossanta hora do grayline. Como ainda faltavam alguns minutos para o sol cair puseram-se a conversar sobre o tema preferido: antenas.
Jota QRP iniciou a conversa dizendo que havia corujado uns radioamadores em 40 metros que estavam a ponto de trocarem insultos, um defendia as yagis, outro as cúbicas e um terceiro dizia que não havia nada que se comparasse a uma vertical à beira-mar. As opiniões variavam, bem como variavam os casos, um dizia que havia trabalhado um país no meio de um terrível pile-up com uma simples monobanda de 3 elementos ao passo que um outro que estava com uma cúbica de 4 elementos estava apanhando feio, e ainda assim, prosseguia o primeiro minha yagi está baixa, imaginem se estivesse alta.
É interessante isso, observou Papah Yankee, se vocês prestarem atenção, certamente ouvirão casos onde uma antena se sobressai em relação a outra em uma dada circunstância. Como a ignorância dessa gente é tão profunda quanto uma fossa abissal, eles nunca saberão as verdades dos insondáveis mistérios da propagação e também nunca desvendarão os eternos enigmas das antenas.
Ainda outro dia, continou Papah Yankee, “eu estava corujando uma estação localizada numa ilha do Pacífico que estava operando, em fonia, em 15 metros com sinais de S8 na minha yagi que está bem alta e tem ângulo de irradiação baixo. Na mesma hora, e na mesma ilha, havia uma outra estação em telegrafia com sinais miseravelmente fracos, ligeiramente acima do ruído, algo em torno de S2. Eu simplesmente virei a chave de antena para um Vê invertido que uso em 40 metros para contatos locais e o sinal dessa estação subiu para S-4, perfeitamente trabalhável.
O que ocorreu é que a estação de CW estava operando em um ponto da ilha, atrás de um paredão enorme que bloqueia o sinal para a América do Sul, ao passo que a estação de SSB estava no alto de um morro com boa visibilidade para nós. Assim, uma antena com ângulo de tiro alto tinha melhor rendimento para a estação que estava oculta.
Em verdade, ensinou Papah Yankee, não existe antena ideal, existe uma antena indicada para cada situação de propagação e de localização. Vejam como as grandes estações de concurso trabalham, elas possuem duas ou três configurações diferentes para cada faixa, com ângulos de irradiação diferenciados, onde podem, ao simples toque em uma caixa de fasamento, variar o ângulo de tiro. É claro que essas configurações são caras e exigem muito espaço, e não estão ao alcance da maioria das estações, mas ainda assim, podemos, dentro das nossas limitações, fazer uma ou outra variação para cada situação. O importante, finalizou ele, é ter consciência do comportamento da propagação e procurar a melhor forma de utilizar os recursos disponíveis.
Arrectis Auribus
de PY2YP - Cesar

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O falso cognato

Um tolo culto é mais tolo que um tolo ignorante (Moliére)
"La vien un tarado pelado com su saco en las manos correndo atraz de la buseta".
A chegada da TV paga, nos trouxe além do aumento da programação, tanto em variedade quanto em qualidade, nos trouxe, de quebra, um grande avanço cultural. O grande número de filmes e outros programas importados de outras plagas, sobretudo a que está acima do rio Grande, fez com com que as operadoras e distribuidoras dos filmes aumentassem em muito a oferta de empregos para tradutores. A excelência do serviço oferecido é tanta que ganhamos dois filmes, um que está sendo apresentado com a tecla SAP e outro que está sendo dublado ou que está em legendas.
Os disparates são inacreditáveis, os incompetentes e despreparados tradutores, ou talvez apenas mal pagos e portanto apressados e descuidados, nos concede, gratuitamente, um grande festival de asneiras. É comum ouvir traduções assim: he attended to the conference ser traduzido como “ele atendeu a conferência”. To attend significa comparecer e conference nunca foi conferência e sim reunião. Conferência em inglês é lecture.
Ou então maravilhas como estas: I realize por eu realizo (eu penso) ou we will celebrate por vamos celebrar (comemorar). Estas bobagens são, desgraçadamente, muito comuns e são conhecidas como falsos cognatos. São palavras que aparentemente tem o mesmo significado mas, em verdade, expressam pensamentos diferentes.
Alguns falsos cognatos fizeram carreira e incorporaram-se ao nosso idioma: design virou desenho, deveria ser projeto; plant virou planta, deveria ser instalação e outros tantos que não vale a pena tentar lembrá-los. O uso desses falsos cognatos fazem com que a idéia não seja corretamente expressa gerando desentendimentos.
Em nosso meio também é comum ouvir: “a antena tribanda marca tal é uma antena de compromisso, porque é uma antena para três bandas e nunca poderá ter o rendimento de monobandas.”. A assertiva é verdadeira, antenas tribandas nunca terão o mesmo rendimento que as monobandas com o correspondente número de elementos. O que está errado na frase é a expressão “compromisso”. Antena não tem compromisso, quem tem compromisso é o operador quando marca um schedule. O que o despreparado interlocutor quis dizer ou queria ter dito, é que a antena tribanda tem o seu rendimento comprometido por abrigar três bandas em uma só antena. To compromise significa comprometer; compromisso é commitment.
Basta corujar um pouco as faixas e a diversão continua, os supostos DXers praticam o falso cognato invertido, isto é, versam para o inglês palavras que não tem qualquer significado para os anglofônicos, só tem algum sentido em português de rua, de sarjeta. Tudo isso com uma pronúncia de cair o queixo, algo assim: minha vaca é papaianqui-tu-taltal, quando deveriam dizer meu indicativo é tal. Pronunciam cow ao invés de call. Praticam inglês de gago, falam: humm, heeee, huuuu e por aí adiante.
Estudar um pouco nem pensar, isso é coisa de trouxa e maricas; eu aperto o PTT e falo, dizem eles. Patético.
Outros, menos ousados, e igualmente ignorantes, pedem para o amigo fazer seus DX em fonia e vão assim, de grão em grão ou de gronga em gronga, caminhando em busca de seu sonho pândego: ser um DXer respeitado. Igualmente patético.
Quando os pretensos DXers tentam falar castellano, aí a festa pega fogo. Dizem: pueco (poco), largo ao invés de ancho. Ou então a maravilha das maravilhas: por favor CUERREX que yo voy a tomar una cueca cuela. Estarrecedor. Deveria existir alguma lei que os obrigassem a estudar um pouco, a comunidade mundial e os corujas agradeceriam in imo pectoris.
Fica-se a imaginar como eles traduziriam a frase inicial, que na verdade apenas significa: "Lá vem um tonto careca com seu paletó nas mãos correndo atrás do lotação"...
Arrectis Auribus
de PY2YP - Cesar

sábado, 7 de abril de 2012

A massa crítica

No momento das reformas, deve-se ser muito cuidadoso, porque os que melhor vão se beneficiar com as reformas ainda não sabem disso. E os que começam a perder sabem de imediato. (Machiavelli)
A recente reunião da IARU propôs oficialmente o fim da telegrafia para os exames de radioamadores. A decisão final, contudo, dar-se-á, para desesperos dos incompetentes, apenas na próxima reunião da ITU prevista para 18 de abril de 2002.
Qualquer que seja o resultado dessa reunião, o fim da telegrafia já terá sido decretado. Não como meio de comunicação confiável e muito menos como modalidade abrangida pelos radioamadores de boa cepa. Seu fim, como agente seletivo, deu-se no momento em que os interesses comerciais, isto é, interesse em aumentar a quantidade de radioamadores, superpuseram-se aos interesses de pesquisa e experimentação, apenas isto e nada mais. A verdade insofismável é que a boa e velha telegrafia ainda é utilizada pelas forças especiais, as forças de elite de vários exércitos; continuará ainda a ser utilizada como meio de transmissão entre os radioamadores que a usam como modalidade esportiva em competições, onde o DX se inclui. A telegrafia apenas deixa de ser uma barreira para os que desejam “falar no rádio”, isto é, apertar um botão e falar, como se faz nos telefones celulares. Esses pretensos radioamadores nada trazem ao desenvolvimento das comunicações, não estudam, não pesquisam, enfim são meros e inúteis coadjuvantes.
Os tolos, e os muito tolos, pensam que a extinção da obrigatoriedade de conseguir identificar uns poucos sinais em código morse deveu-se aos seus inúmeros e histriônicos reclamos ou quiça às suas baboseiras pretensamente literárias. Não passam de vivandeiras tentando acompanhar a marcha da história sem contudo influência-la. Patéticos, para dizer o menos.
Tentando ser menos drástico pode-se, com muito boa vontade, dizer que essa gente, essa massa ignara, composta dos infaustos faladores, até que ajuda. Por serem numerosos, afinal a mediocridade representa a média da maioria, podem constituir-se em mercado comprador e evitar que os fabricantes de antenas e equipamentos fechem suas portas.
Podem ainda engrossar a massa cinzenta (não confundir com o cérebro) que participa dos concursos e nos dar preciosos pontos. Eles podem até mesmo participar dos concursos de telegrafia, pois os computadores substituem o cérebro dessa gente com grande vantagem. A grande massa cinza, a horda, ajuda em muito nos contestes, os grandes operadores sabem disso, dizem eles: “concurso se ganha trabalhando aqueles que entram fazem cinqüenta ou cem comunicados e desaparecem.”
Define-se como massa crítica a quantidade mínima ou número necessário para que algo comece a acontecer. Assim, a massa crítica para os preços das antenas começarem a diminuir será algo, digamos, em torno de 20.000 potenciais compradores. Sim, pois se dez por cento da massa se interessarem seriamente por DX teremos 2.000 futuros compradores e, se um quarto deles tiverem dinheiro suficiente para implementarem seus sinais, teremos 500 compradores de antenas diretivas como eles dizem. Já os equipamentos de aumento de potência, os amplificadores lineares requerem como massa crítica um número de potenciais compradores ao redor de 100.000 entusiasmados principiantes. Essa gente, equipada com boas antenas e bem municiados poderão entrar nos pile-ups e finalmente fazer com que os DX virem suas antenas para a América do Sul e possam dizer: “listening 14200 for PY2 only. The others piuáis please stand by.”
Contudo a massa crítica acontece também para outros lamentáveis acontecimentos. Por exemplo: a massa crítica de urânio para detonar uma bomba atômica com grande poder de destruição é de apenas umas poucas unidades de massa. A massa crítica para fazer você perder um país é de apenas um idiota chamando geral na freqüência de transmissão do DX e isto é deverasmente alarmante...
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O império do Islã

Por volta do ano 610 da Era Cristã um analfabeto tropeiro começou a ter sonhos em que um anjo de nome Jebrail o chamava ao topo de uma montanha, ali pelas cercanias de Meca. O anjo trombeteiro (sim é o mesmo Gabriel), nos seus sonhos, dizia ter importantes recados do Senhor.
Maomé, o tropeiro, mostrou-se estar à altura da interlocução e absorveu com grande propriedade os ensinamentos. Apesar da sua pouca cultura e nenhuma letra, era dotado de grande inteligência e invulgar senso político. Disse ele ao retornar da montanha: “não sou um ser divino, sou um analfabeto ungido pelo desejo de Deus em melhorar o nosso povo”. De modo a não entrar em conflito com outras religiões monoteístas, afirmou que Cristo e Buda também foram legítimos representantes da Sua vontade. Mas, continuou ele, seus seguidores deturparam os ensinamentos do Senhor que agora o elegia como Seu profeta. Habilmente, escolheu para sua unção o mesmo morro usado tempos antes para por à prova a fé de Abrãao, aliás, usou a própria pedra onde ele colocara o primogênito para matá-lo. Fica ali perto de Meca onde hoje está a grande mesquita do Islã.
De volta a Medina, sua terra de origem, Maomé, por não saber escrever, convocou os letrados para ditar o Corão, criando o conselho dos sábios que chamou de Shura. No ano de 622, ano zero do islamismo, Maomé empunhou armas e decidiu tomar as cidades de Medina e Meca, não sem antes comunicar ao Shura que, por não ser divino, seu sucessor, caso caísse em batalha, deveria ser eleito por eles. Morreu em 633, aos 63 anos, e o conselho elegeu Abu Baker (não confundir com 5AIA), que uniu a religiosidade e o código de conduta do Corão aos poderes do Estado.
De forma a propagar o texto sagrado, Abu Baker obrigou a todos a aprender a ler e escrever, eliminando a analfabetismo e fazendo do livro a grande arma de expansão do seu império.
Assim, século após século, o islamismo cresceu e difundiu os ensinamentos. As universidades de Teerã, de Bagdah e de Medina, trouxeram grandes avanços nas ciências e nas artes matemáticas. Nesta última criaram o conceito do zero: os algarismos romanos não o têm, os arábicos têm. Os médicos de Bagdah intuíram que as doenças poderiam propagar-se pelo ar e pelo contato, assim, decidiram isolar os doentes de mesmos sintomas em alas separadas dos hospitais, que também é outra criação islâmica. A indústria têxtil árabe era de excelente qualidade: era tão boa que, quando os católicos queriam vestir as imagens dos seus santos, usavam os tecidos árabes; aliás, aqueles arabescos bordados com fios de ouro nas bordas são trechos do Corão ali desenhados para divulgá-lo.
O império cresceu tanto que ia desde as montanhas de Cashemira na Índia até os costados da Espanha, não sem antes passar por todo o norte da África. Se cresceu tanto por que acabou? Acabou pela guerra com as cruzadas romanas e sobretudo, pela invasão dos bárbaros vindos da Mongólia. Ambas as frentes tomavam as aldeias islâmicas, ateavam fogo nos livros e assassinavam os membros dos Shuras, dizimando o conhecimento de mais de mil anos.
Aqui estamos todos temendo pela nossa invasão bárbara, acenam alguns que os caminhoneiros e pexizeiros devem invadir, como se já não o fizessem, as nossas faixas, agora amparados pela lei. Pregam eles que os novos bárbaros sejam dispensados dos exames de telegrafia, dos parcos e poucos conhecimento de eletrônica e venham a fazer parte da classe dos radioamadores. Querem eles moldar as leis às suas limitações e contam com a próxima reunião da ITU para alcançar a glória suprema: ser radioamador classe A, pêipsilon de duas letras como dizem. A cruzada contra o radioamadorismo já começou e será curta, seremos todos banidos, teremos os nossos boletins, revistas e artigos técnicos incinerados. Seremos perseguidos e expostos à execração pública, teremos nossos QSLs confiscados e queimados em nome da nova ordem. Não mais existirá limitação de modo ou de freqüência, o caos instalar-se-á definitivamente e os telegrafistas serão chamados de terroristas...
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

terça-feira, 3 de abril de 2012

Tudo pelo social

Desconheço o que o amanhã me trará. (Fernando Pessoa in extremis)
Seu dia, 30 de Novembro de 1935, havia chegado. A hora era a hora da morte, da elucidação dos mistérios da fé. A luz estava a lhe faltar, a vida estava se esvaindo; pediu os óculos e escreveu, em inglês, sua última frase: “I know not what tomorrow will bring”. Naquele instante haviam acabado as dores na alma de Fernando Antônio Nogueira de Seabra Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa. Com ele morreram ainda Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, seus heterônimos.
As dores dos cidadãos brasileiros estão muito longe de acabar; vivemos, por obra e graça dos maus políticos, uma das piores quadras da nossa história.
As minorias organizadas estão a impor suas pretensões que o governo, politicamente covarde, erroneamente lhes concede. Governa-se pela minoria, governa-se pela covardia e pela destemperança. “Tudo pelo social” é o mote.
Ninguém sabe como começou, mas aos poucos as bicicletas começaram a aparecer na contra-mão. Os imbecis com suas caras de doutos, marca registrada dos idiotas, começaram a andar no contra-fluxo do tráfego argumentando: “É mais seguro, eu vejo o perigo de frente”; e não falta quem lhes dê razão. Os pobres ciclistas desconhecem a mais simples das leis da física: velocidades em sentido contrário somam-se. Morrem aos borbotões. Basta andar pela cidade de São Paulo e verá um ciclista morto por dia. Eles não vêem o perigo pela frente, vêem a morte quando é tarde demais. Morrem pela ignorância, pela estupidez. As autoridades nada fazem.. A imbecil idéia de andar na contra-mão fez carreira, agora andam na rua carrinhos de bebê, cadeiras-de-rodas, carrinhos de supermercado, e tudo o mais que tenha rodas, claro, todos pela contra-mão. O motivo? As calçadas foram tomadas pelos camelôs com a anuência do governo. Tudo pelo social, dizem os nossos politicamente covardes governantes.
As motocicletas andam por entre os carros com o beneplácito da lei, o Código de Trânsito Brasileiro em seu artigo 56 lhes proibia, mas os fabricantes de motocicletas argumentaram que o desemprego seria grande, a categoria dos moto-boys seria prejudicada. O governo, velando pela minoria, anuiu; vetou o artigo 56. Morrem os pedestres atropelados pelas motos, mas isso não é importante, os mortos não se organizam, nada reivindicam e não são ouvidos. Aos mortos só lhes restam doar seus órgãos como exemplo de cidadania. Morrem com dignidade, assassinados pelo descalabro que tomou conta do país. “Tudo pelo social”.
Os perueiros incendeiam ônibus, tomam as ruas e zombam das autoridades e nada lhes acontece. O governo acuado brada: “Tudo pelo social”.
As ligações elétricas clandestinas, os gatos, propagam-se como praga; na Bahia atingem a marca de 16,5%, no Rio de Janeiro atendem a milhões de habitantes. O governo nada faz, exige racionamento de quem paga, das ligações regulares. Os gatos? Estes ficam impunes e livres de contas e cotas. “Tudo pelo social”.
Os traficantes, utilizam as freqüências de rádio com seu HTs, os entregadores de pizzas, os manobristas, os seguranças particulares usam as freqüências de VHF com a maior cara-de-pau. Estão impunes, o governo os ignora e lhes dá guarida: “Tudo pelo social”.
Os caminhoneiros usam as nossas freqüências, expulsam-nos dos 12 metros, dos 10 metros, ou de qualquer outro lugar. Fazem parte das minorias organizadas, portanto nada lhes acontece. Aos caminhoneiros juntam-se os perueiros, os pescadores em 80 metros, os fazendeiros, e quem mais quiser. A fiscalização, é claro, só atua sobre os radioamadores licenciados. “Tudo pelo social”.
O caos instalou-se, a sociedade agoniza, o país está à morte por falta de energia e o governo ostenta sua postura favorita: “Desconhecíamos a gravidade da situação”. O governo, em todos os níveis, zomba da sociedade, debocha da maioria desorganizada. Desgraçadamente desconhecemos o que o amanhã nos trará mas teremos que enfrentá-lo.
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

domingo, 1 de abril de 2012

Estranhos caminhos

Elementar, meu caro Watson. (Sir Arthur Conan Doyle)
Era uma daquelas tardes de inverno, fria, enevoada, como se fosse um aviso de boa propagação nas bandas baixas. Papah Yankee estava absorto, imaginando uma forma de colocar algumas beverages em fase para conseguir copiar a zona 29 em 160 metros quando foi acordado pela horda. “Viemos para o chá”, bradaram eles.
Estavam eles a discutir acaloradamente os insondáveis mistérios da propagação. Um dos piuáis presentes começou a contar: – “Domingo pela manhã, ali pela hora do almoço, havia um 5B4 com um sinal fortíssimo. Eu chamei por ele e não fui ouvido”, continuou o infeliz piuái, “era país novo para mim em 10 metros. O pior”, emendou ele, “é que o sinal era tão forte, mais de 20 dB, que eu não pude acreditar que não estava chegando lá.”
Um outro piáui, remanescente das castas inferiores, disse do alto do seu suposto saber: – “Você sabe, essas figurinhas estão querendo faturar uns greens e só falam com os americanos. Esses operadores”, emendou o pretendente a DXer, “são a vergonha do DX, um descalabro”, finalizou ele visivelmente indignado.
Um outro DXer, este sim um veterano, tomou a palavra e disse: – “Eu também estava nesse pile-up, com uma antena de 6 elementos e 1 kW e igualmente não consegui ser ouvido. Mas”, continuou ele, “isso não foi nada. Aquela grande estação do sul entrou no pile-up com sua gigantesca configuração de 10 metros devidamente empurrada por alguns kilowatts e também não foi ouvida. Algumas vezes”, continuou o veterano, “a propagação não é bidirecional pois os sinais procuram estranhos caminhos”, concluiu ele.
Jota QRP, que a tudo ouvia, disse calmamente: –“Felizmente, pois se assim não fosse eu ainda estaria engatinhando no DXCC. Vez por outra”, continuou ele, “os americanos chegam aqui muito forte, o DX fraquinho e eu chamo uma só vez e pronto: mais um no log. Os sinais que os americanos colocam aqui não é o mesmo que colocam lá no DX e isso espanta os principiantes. Devemos chamar sempre pois os sinais que recebemos nada representam. Podemos chegar forte em um país que mal escutamos. São os estranhos caminhos”, ensinou.
Papah Yankee, que estava no canto apenas observando o desfilar de tanto conhecimento, deu uma baforada no seu cachimbo de roseira e falou: – “O que houve com o 5B4 foi apenas a diferença entre os ângulos de irradiação dele com os das nossas estações. O ângulo de tiro dele atingia uma região densamente ionizada e refletia o sinal com grande eficiência, ao passo que os nossos estavam atingindo uma região mal ionizada ou sem qualquer condição de refletir os sinais, fazendo com que os nossos sinais simplesmente não chegassem até ele. Este tipo de propagação é bastante comum em freqüências críticas, ao redor e acima de 30 MHz.”
“É tolice”, prosseguiu Papah Yankee, “imaginar que os sinais são bidirecionais, é preciso considerar as diferenças de antena, potência, equipamentos, solo e outras, entre as duas estações. Há ainda a diferença entre os terrenos utilizados pelos “skips” das duas estações, que não são os mesmos devido, principalmente, aos seus ângulos de tiros. A absorção dos sinais é função direta da condição de refletividade dos terrenos atravessados.”
“Ao longo da minha vida no DX”, continuou o grande DXer, “já vivi e presenciei situações muito peculiares. Ainda agora estou testemunhando uma série de estranhos comunicados em bandas baixas onde alguns DXers locais conseguem comunicados sem propagação. Dizem os sábios que esses DXers estão utilizando um equipamento novo na recepção, conhecido como DESR (Device for Extra Sensorial Reception), que deve ser o sucessor do EDSP atualmente utilizado nos equipamentos de última geração. Segundo dizem, esses equipamentos são produzidos na Rússia Asiática”, finalizou ele com um sorriso misterioso nos lábios.
Jota QRP, inveterado coruja, sabedor desses QSOs apenas disse: “...elementar, meu caro Watson...”
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar